A PAMONHA DA COMADRE
A cozinheira e sua assistente terminaram mais uma cansativa semana de trabalho à frente da cantina escolar:
- Até que enfim, amanhã quero acordar lá pelas dez – disse a chefe.
- Desconjuro! Quero aproveitar bem o final de semana. Vou levantar bem cedinho! – retrucou à assistente.
- Pr’a quê?! Já basta todos os dias levantar quase de madrugada e vir “pilotar” esse fogão até a noite.
Não sabia que sua comadre estava a caminho, e que seu plano poderia desmoronar. Arrumaram a cantina e foram em direção ao portão. Momento que aparece a comadre:
- Comadre, que bom vê-la! Tudo bem?
- Tudo, e com você? – respondeu a cozinheira.
Aproveitando a oportunidade, despediu-se a assistente:
- Tchau Maria, bom final de semana, se mudar de idéia aparece lá em casa, vamos pr’a fazenda dar uma pescadinha.
Maria nem respondeu, sua decisão já estava tomada.
- Está indo embora? – perguntou a comadre.
Maria olhou-a com certa ironia e respondeu:
- Missão cumprida, retorno ao lar. Estou cansadíssima e “doida” pr’a assistir o último capítulo da novela das oito.
A comadre sorridente exclamou:
- Puxa! É mesmo! Tinha até esquecido que ia acabar hoje. Será que posso assistir na sua casa?
- Claro. Companhia para comentar os acontecimentos da novela é sempre bom – respondeu a cozinheira.
Após alguns minutos de caminhada chegaram à casa de Maria, que não morava longe do trabalho. Assistiram atentas ao último capítulo da novela, quase sem trocar nenhuma palavra. Ao final, a comadre se levantou e disse:
- É comadre vou indo, foi bom o final né?
- Né – respondeu Maria, acrescentando:
- Final de novela é assim mesmo, os bonzinhos acabam felizes para sempre. Ao contrário da vida.
A comadre já estava perto do portão, quando virou- se e falou:
- Sabe comadre, eu vim até aqui foi pr’a pedir a você que me ajude amanhã cedo, vou preparar umas pamonhas lá em casa.
Antes de Maria responder, ela continuou:
- Alguns amigos que moram em São Paulo virão nos visitar e eu queria fazer uma pamonhada daquelas pr’a eles.
Maria fitou-a tristemente e argumentou:
- Infelizmente não posso comadre. Minha mãe foi operada e tenho que ficar com ela no hospital.
- Operou?! – perguntou a comadre surpresa.
- Exagerou na pamonha e “zangou” a úlcera. Não deu outra. A solução foi “entrar na faca!”
- Pamonha! Deus que me livre! – exclamou a comadre, fazendo o sinal da cruz.
- Mas a vida é assim, - salientou Maria - nunca é do jeito que queremos. Cuidado hein comadre, vai ver se esse povo que vem, também não sofre de úlcera.
- Vira essa boca pr’a lá Maria! – disse a comadre, dando três batidas no portão.
- Então, boa pamonhada comadre, vou entrar pr’a fazer uma janta, tô “mortinha” de fome – falou Maria segurando um sorriso.
- Obrigada, melhoras a sua mãe. Mande lembranças – disse a comadre.
Maria entrou, preparou o jantar, sentou-se a vontade no sofá, deliciou-se de sua culinária e disse em voz baixa:
- Quanto mais rezo mais assombração me aparece. Era só o que me faltava! Amanhã e vou acordar lá pelas dez,e ponto final!. Perdoe-me mãezinha, que Deus a tenha em bom lugar.
Paulo Henrique Nogueira